O livro “Hell’s Angels – Medo e Delírio Sobre Duas Rodas”, de Hunter S. Thompson, foi lançado em 1966 e detalha a intensa pesquisa do autor sobre a famosa e controversa gangue de motociclistas. Motivado por um relatório policial do estado da Califórnia que especificava números assustadores e colocava os integrantes da gangue como verdadeiros criminosos, o escritor decidiu acompanhar a rotina de perto.
Por quase um ano, Thompson acompanhou os Hell’s Angels, bebeu nos seus bares, presenciou suas brutalidades e quase se converteu ao estilo de vida das estradas. Chegou a declarar que em um dado momento já não sabia se estava documentando a gangue ou sendo lentamente absorvida por ela. Sua intenção era a de mostrar que nem tudo contido no relatório da polícia era condizente com a realidade.
Hunter Thompson
Hunter Stockton Thompson foi um jornalista e escritor norte-americano, um dos responsáveis pela popularização de um gênero experimental de escrita jornalística, que chamou de “gonzo”, em que os autores se envolvem nos fatos que narram, a ponto de tornarem-se personagens dos mesmos. Ficou mundialmente famoso com a publicação de “Hell’s Angels” e, posteriormente, com “Diário de um Jornalista Bêbado” e “Medo e Delírio em Las Vegas”.
Seu modo intenso de vida, com uso frequente de álcool e drogas ilegais, o levou a vários problemas de saúde e psiquiátricos. Em 2005, aos 67 anos, suicidou-se com um tiro na cabeça.
Hell’s Angels: os anjos do inferno
O estilo de Thompson é pouco ortodoxo: uma verdadeira coleção de artigos, citações de poemas, relatórios policiais e referências a filme e a outros livros toma as páginas. Ao analisar de perto a vida do motoclube Hell’s Angels, Thompson desmistifica muito da imagem da gangue. Na visão do autor, os motociclistas se enxergavam como uma espécie de Robin Hood moderno, promovendo a justiça por caminhos que escapam da lei. Na realidade, eram frenéticos e adeptos do excesso de cerveja, pílulas, maconha e LSD.
Com o passar do seu tempo de pesquisa e convivência, Thompson começou a enxergar os Angels de maneira cada vez menos idealizada. Em sua opinião, eles passaram a acreditar na própria fama, tornando-se caricaturas de si mesmos. Depois de quase um ano na companhia da gangue, a relação termina quando o escritor é expulso por suspeitas e desconfiança e ainda leva uma surra.
“Hell’s Angels” é indicado para quem se interessa pela história da gangue ou ainda para qualquer um fascinado pelas profundezas do comportamento humano. Uma análise complexa contida em um texto atrativo e fácil de ler, o livro é eloquente e um verdadeiro clássico. Enxergar os Angels de maneira absoluta e julgá-los como criminosos ensandecidos é um engano, e Thompson convence qualquer leitor disso.